Formação de tradutores

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Por não ser uma profissão regulamentada, em princípio, qualquer pessoa pode autodenominar-se tradutora; não há exigência de diploma ou formação específica. No entanto, traduzir profissionalmente exige muitas habilidades além do domínio de dois idiomas e para se tornar um profissional de fato, é preciso investir numa boa formação.

Em artigo de 2012, a professora Maria Cândida Bordenave, fundadora da primeira graduação em Tradução no Brasil, destacou o que considerava os três pilares para a formação em tradução: o domínio da língua estrangeira, o domínio da língua nativa e amplitude de conhecimentos extralinguísticos. Podemos hoje acrescentar um quarto pilar que é o domínio das tecnologias da tradução.

Para o domínio da língua estrangeira, Bordenave aponta para a necessidade de "doses maciças de aprendizado da língua, de estudos linguísticos específicos de morfologia, sintaxe e semântica, entre outros; os cursos de literatura da língua inglesa reforçam esse aprendizado na medida em que o aluno tem uma carga de leitura considerável, participa de discussões e produz trabalhos acerca do que leu".

O domínio da língua nativa exige "dominar o português não só nos seus recursos mais óbvios de sintaxe e léxico, mas na sua capacidade de expressividade, nas conotações, nuances, implicações, no subentendido".

O conhecimento extralinguístico, na graduação, vem através de "disciplinas que concorram para ampliar a cultura geral ou os conhecimentos específicos das áreas do conhecimento". É o que Umberto Eco chama de "saber enciclopédico necessário para o exercício da tradução, que obviamente deve ser construído continuamente, a partir das mais variadas fontes.

O domínio das tecnologias de tradução é o quarto pilar da formação, que deve incluir desenvoltura geral no uso do computador, incluindo gerenciamento de arquivos, comunicação, backup, recuperação de erros básicos, etc. Mas é preciso cuidado com uma preocupação maior com a ferramenta do que com a obra em si.

Existem vários caminhos para a formação do tradutor e, com a mudança dos mercados e o desenvolvimento de novas técnicas e tecnologias, a continuidade da formação é também muito importante para que o profissional se mantenha atualizado, melhore a qualidade de seu trabalho e seus rendimentos e garanta sua sobrevivência nessa carreira. O fundamental é que o candidato a profissional da tradução entenda a importância de investir na sua formação inicial e que dê continuidade a ela pelo resto da vida.

Graduação - bacharelado e/ou licenciatura em letras/tradução[editar | editar código-fonte]

Algumas universidades brasileiras oferecem bacharelado em tradução: um curso regular de graduação com duração de três ou quatro anos. Em alguns casos, o bacharelado é em letras com habilitação em tradução.

A PUC-RJ foi a primeira universidade brasileira a incluir a Tradução em sua grade de cursos, em 1968, pela professora Maria Cândida Bordenave. Uma entrevista com a professora Cândida pode ser lida na edição número III dos Cadernos de Tradução, publicados pelo curso de pós-graduação em Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina.

Atualmente, a graduação em Tradução é oferecida por diversas universidades brasileiras. Evidentemente, os cursos dependem da demanda dos alunos, portanto não é possível, por ora, bacharelar-se em tradução em sueco ou vietnamita. Isso não impede, no entanto, que os princípios gerais de tradução ensinados sejam aplicados a qualquer par de idiomas.

Outro curso muito tradicional é o de Bacharelado em Letras com Habilitação de Tradutor da UNESP de São José do Rio Preto, criado em 1978 e ainda hoje um dos poucos cursos de formação em tradução do país em uma universidade pública. Oferece 32 vagas por ano: 16 para o inglês e 16 para o francês. Além de uma dessas línguas, o vestibulando estuda uma segunda língua estrangeira: o espanhol ou o italiano. A escolha dos idiomas depende da classificação no vestibular. Todos os anos, o curso realiza a Semana do Tradutor, um dos eventos mais tradicionais da área no Brasil.

Há outros cursos que oferecem habilitação em língua e literatura e/ou licenciatura. O bacharel e/ou licenciado nesses cursos normalmente traz consigo uma boa bagagem linguística, mas não uma bagagem tradutória propriamente dita, a qual pode adquirir em cursos especializados ou como autodidatas.

No tocante ao bacharelado em tradução, é oportuno esclarecer que o curso não se limita ao estudo de teorias de tradução. A graduação em tradução inclui disciplinas de linguística, línguas, cultura e literatura comuns, disciplinas práticas de tradução em diferentes áreas, e matérias teóricas do âmbito dos Estudos da Tradução.

Lista de cursos de graduação de tradutor e/ou tradutor intérprete[editar | editar código-fonte]


Pós-graduação lato sensu[editar | editar código-fonte]

Os cursos de pós-graduação lato sensu, normalmente conhecidos como cursos de "especialização", são profissionalizantes e têm duração de um ou dois anos, abordando os diferentes aspectos da profissão em módulos especializados.

A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro lançou, em 2015, uma versão reestruturada do curso de pós-graduação lato sensu, lançado originalmente em 1997, e que agora uniu o curso de formação de tradutores com o de especialização em tradução. O novo curso se chama Técnicas, Práticas e Estudos de Tradução (Inglês - Português) e tem 360 horas de duração.

Além dos cursos presenciais, algumas universidades oferecem também a modalidade à distância, como os cursos de pós-graduação lato sensu de Tradução de inglês e Tradução de espanhol da Universidade Estácio de Sá. Para ser aceito nesse tipo de curso, o aluno precisa já ter cursado e concluído uma graduação. Muitas vezes o aluno da pós-graduação lato sensu é um profissional de outra área que, por diferentes motivos, está buscando uma nova carreira profissional.

Além da Universidade Estácio de Sá, a Rede de Educação Claretiano[1]oferece um curso de Formação de Tradutores de Língua Inglesa em nível pós-graduação na modalidade a distância.

A Casa Guilherme de Almeida oferece um curso de pós-graduação gratuito em Tradução Literária, os alunos são selecionados por concurso. Outros cursos de menor duração com foco em tradução literária também são oferecidos por essa instituição.

Pós-graduação stricto sensu[editar | editar código-fonte]

Os cursos de pós-graduação stricto sensu, de perfil acadêmico, têm duração de dois anos (mestrado) ou quatro anos (doutorado). No Brasil, o primeiro foi a Pós-Graduação em Estudos da Tradução da UFSC, mas já existem outros, como o Postrad da UnB.

Outras pós-graduações em áreas como literatura, linguística e literatura comparada também costumam contar com linhas de pesquisa em tradução. Na PUC-Rio, por exemplo, uma das linhas de pesquisa da pós-graduação em Letras/Estudos da Linguagem é "Linguagem, Sentido e Tradução".

Há também o Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução, da USP, com mestrado com duração de 3 anos e doutorado com duração de 4 anos.

É importante ressaltar, no entanto, que o surgimento de programas de pós-graduação específicos da área é reflexo da constituição dos Estudos da Tradução como área de conhecimento autônoma, fato acontecido somente a partir da década de 1970. Nos programas dedicados primordialmente a esse saber, as pesquisas podem ter maior potencial de desenvolvimento, com mais estrutura e recursos direcionados.

Cursos de extensão[editar | editar código-fonte]

As universidades também oferecem cursos de extensão, em geral mais curtos que uma pós-graduação, os quais podem ser cursados por graduandos, pós-graduandos e profissionais em geral. São extracurriculares, permitindo que interessados não matriculados em um curso regular da instituição se inscrevam. Esses cursos são adequados para iniciantes, quando são generalistas, bem como para profissionais experientes, quando especializados, oferecendo oportunidades de educação continuada na carreira. O CCE da PUC-Rio, por exemplo, oferece regularmente cursos de extensão em tradução.

Cursos livres[editar | editar código-fonte]

Os cursos de formação de tradutores também estão presentes fora das universidades, muitas vezes oferecidos por cursos de idiomas. Estão espalhados por todo o país. O Alumni, em São Paulo, e o Daniel Brilhante de Brito, no Rio, são exemplos bem estabelecidos dessa modalidade. Existem muitos outros, que divulgam seus cursos em seus sites e redes sociais. Entre as vantagens desses cursos está a facilidade de oferecer cursos a distância e maior flexibilidade de duração e conteúdo.

Cursos estrangeiros[editar | editar código-fonte]

Existem inúmeros cursos de tradução oferecidos pelo mundo que podem atender ao tradutor de português, não só nas modalidades acima, mas também em formatos variados. É bom lembrar que, devido às diferenças entre os sistemas educacionais dos países, nem todo curso será reconhecido no Brasil. Frequentemente, cursos chamados "mestrados" no exterior são aproveitados como "especializações" no Brasil — e somente após um processo de validação do diploma. Ao escolher um curso fora do território nacional é importante informar-se a respeito antes de tomar uma decisão.

Para profissionais que já atuam no mercado e procuram aperfeiçoamento, há cursos de curta duração, oferecidos por muitas universidades e outras organizações durante as férias, principalmente cursos de verão.

Os tradutores de português podem encontrar disciplinas e programas de interesse nas universidades a seguir. Alguns cursos são oferecidos online. Para complementar a pesquisa, vale a pena ver a lista de instituições reconhecidas pela American Translators Association em todo o mundo.


América

Monterrey Institute of International Studies

University of Maryland

Glendon College – York University

NYU-SCPS

Graham School – University of Chicago

University of Illinois at Urbana-Champaign


Europa

Johannes Gutenberg-Universität Mainz- O departamento de formação de tradutores e intérpretes, em Germersheim, oferece todos os anos cursos e oficinas para diversas línguas, geralmente de julho a agosto.

Universität Freiburg - Costuma oferecer cursos de verão em cooperação com outras instituições, dirigidos a tradutores de alemão.

Centre for Translations Studies - KU Leuven Faculty of Arts

London Metropolitan University

City University London - Oferece cursos de desenvolvimento profissional, inclusive à distância, bem como mestrado e doutorado em Estudos da Tradução.

Programas de residência para tradutores[editar | editar código-fonte]

A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) tem um Programa de Residência de Tradutores Estrangeiros no Brasil. A página do Centro Internacional do Livro publica as informações geradas por esse programa.

Os tradutores brasileiros podem buscar programas equivalentes no exterior, patrocinados por institutos de diferentes países.

Outras graduações[editar | editar código-fonte]

Profissionais com outras graduações, mas com um conhecimento de outras línguas, muitas vezes se dedicam à tradução. Muitos se especializam em suas próprias áreas de formação acadêmica. Normalmente, médicos traduzem medicina, por exemplo. Mas as exceções são numerosíssimas e não é raro encontrarmos tradutores literários formados, por exemplo, em direito. Esses tradutores compensam a falta de formação específica em linguística ou tradução por um esforço autodidata, frequentando cursos ou empiricamente. Por outro lado, trazem consigo uma bagagem profissional que lhes facilita o trabalho com traduções altamente técnicas.

Sem graduação ou formação específica[editar | editar código-fonte]

Na atualidade, são poucos os tradutores que não têm alguma graduação acadêmica. De modo geral, essas pessoas traduzem línguas de menor divulgação ou pertencem aos grupos mais antigos da profissão, formados em uma época em que o ensino superior não era tão disseminado quanto hoje. A ausência da formação específica, no entanto, não impede de serem excelentes profissionais, com uma vasta bagagem cultural e conhecimento geral que compensam a ausência inicial de um curso de formação.

Também existem tradutores que jamais frequentaram um curso de tradução por motivos diversos. Um deles é que a tradução, muitas vezes, pode ser uma segunda escolha profissional, encarada apenas como um complemento. Outro motivo pode ser a ausência de cursos universitários de tradução, ou mesmo cursos livres, em suas regiões. Nesse caso, para a pessoa se manter ativa no mercado, precisará encontrar formas de interagir com seus pares pela internet e buscar os recursos que lhe faltam através do estudo individual.